Marquesa de Alorna (1750-1839)
Poetisa e escritora, figura maior da cultura portuguesa, Leonor de Almeida Portugal de Lencastre e Távora foi testemunha de alguns dos acontecimentos mais trágicos da nossa história , como o terramoto de 1755, o processo dos Távora ou as invasões francesas.
Recusou vergar-se ao despotismo do Marquês de Pombal, à tirania de Pina Manique, à autoridade do pai, à vontade do marido e aos caprichos dos amantes. Conspirou pela liberdade, foi exilada e conheceu durante as suas viagens alguns dos protagonistas da Europa das Luzes e do Romantismo que ajudou a introduzir em Portugal .
Voa , pensamento, voa
Voa, pensamento,
voa
Deixa estes sítios
mortais.
Onde se perdem sem
fruto
A minha razão,
meus ais.
O presente taciturno
Finge-me alegre o
passado,
E nos cofres da
memória
Acha o tempo
afortunado.
Ditosos dias, que
todos
Enchiam nobres
ideias
Com que adoçavam
infortúnios
Doirava férreas
cadeias.
Cercada a frente
de loiro,
Na mão a lira
empunhando,
Fui a minha dor e
a alheia
Muitas vezes
adoçando.
Com dóceis Ninfas
em coro
Cantei o Céu e as
estrelas,
Os bosques, e a
Natureza,
Seu autor e as
Graças belas.
Com elas busquei
nas artes
Mil recreios
inocentes:
Horas como aquelas
fogem,
Só duram muito as presentes.
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Amor preso pelas Musas
As Musas Amor
prenderam,
E com cadeias de
rosas
Fortemente lhe
ligaram
As travessas mãos
mimosas.
Vénus, vendo o
filho preso,
Quis carinhosa
soltá-lo;
Mas o preço que
ofertava
Nunca pôde
resgatá-lo.
Embora o grilhão
lhe quebre,
Nem assim o há de
soltar:
Amor com tais
Carcereiras
Quer prisioneiro
ficar.
Costumado ao jugo
amável
Do talento e da
verdade,
Julgou o seu
cativeiro
Mais doce que a Liberdade.
Marquesa de Alorna (Alcipe)
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