Ordenar uma biblioteca é uma maneira silenciosa de exercer a arte da crítica.
Jorge Luís Borges
Sempre gostei de livros. De com eles viajar anarquicamente pelas encruzilhadas da vida. Sempre gostei das suas sentimentalidades. Da linguagem dos afectos. Do que contam e, sobretudo, do que fica por contar.
Sempre gostei de livros, porque eles se conjugam na voz activa e na voz passiva. Isso mesmo! Os livros contam e são contados. São agentes e pacientes. Toleram e são tolerados. Censuram e são censurados. Magoam e são magoados. Há livros para todos os gostos e feitios. Para gente miúda e gente graúda. Para todos os credos e todas as raças. Para amar e odiar. De plena saúde e com as piores das maleitas. Bem e mal escritos. Livros velhos com crenças novas e novas crenças em velhos livros. Alimento do corpo e refrigério da alma.
Com os livros, aprendi a beijar o mundo e as flores. A despertar o que de mais íntimo há em mim: a memória dos sentidos. A ver por dentro e por fora. A ouvir a voz insegura do coração. A recordar, sem medo, as coisas partilhadas. Aprendi a crescer devagar. A ter novas vontades. A gostar mais dos cães e dos gatos do que das pessoas. A resistir à tentação de querer ser feliz.
Com os livros, aprendi, sem custo, a tomar-lhes o gosto, dia a dia renovado: em casa, nas livrarias, nos alfarrabistas, nas bibliotecas, especialmente nas salas de reservados de bibliotecas portuguesas e espanholas, como a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Biblioteca Pública de Braga, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Espanha e a Biblioteca da Universidade Complutense, em Madrid, a Biblioteca da Universidade de Salamanca ou a Biblioteca do Escorial.
Foi por aí que agravei ainda mais o meu gosto pelos livros, especialmente pelos manuscritos e pelos livros raros. Ter tido, nas mãos, livros dos séc. XIII a XVI, tê-los folheado, ter-lhes tomado os odores de séculos tão variados e tão distantes foi uma dádiva que a própria vida me concedeu e à qual ficarei penhorado de eterna gratidão.
Os livros dão-nos imensas razões para gostarmos deles e os tratarmos bem. Cada livro é um motivo em si. Cada livro tem a sua biografia. Em cada livro, há sempre uma história por contar. Cada livro guarda, no mais fundo de si, a esperança de alguém o levar consigo: por algumas horas que sejam ou para a vida inteira. Há histórias de livros que são autênticas histórias de vida: umas, naturalmente, mais felizes do que outras.
A Biblioteca Jaime Cortesão é uma biblioteca grande e uma grande biblioteca. Dispõe de um valiosíssimo acervo com milhares de documentos que urgem de cuidados intensivos, sob pena de, definitivamente, perderem, na estante, o lugar que lhes coube, por direito próprio, nas últimas décadas. Mais alguns milhares necessitam de banho completo. Serão mais ainda os milhares por catalogar. Enfim, são todos estes milhares que gostariam que alguém, ainda que de vez em quando, lhes provasse que vale a pena continuar a ser portadores do número de registo que, tão orgulhosamente, exibem na folha de rosto.
A Biblioteca Jaime Cortesão, a nossa querida e distinta biblioteca, é diferente da esmagadora maioria das bibliotecas escolares. Apesar do rude golpe sofrido, há uns anos, na estética decorativa, a biblioteca ainda mantém, na sua essência, a traça original que marcou o estilo de uma época. Aos meus olhos, continua muito bonita e particularmente muito acolhedora para quem faz dos livros amigos de eleição.
Termino como comecei. A dizer que sempre gostei de livros, razão de sobra para que continue a tentar acabar com o caos que, há muito, se instalou no universo bibliográfico da Jaime Cortesão.
Sempre gostei de livros, porque eles se conjugam na voz activa e na voz passiva. Isso mesmo! Os livros contam e são contados. São agentes e pacientes. Toleram e são tolerados. Censuram e são censurados. Magoam e são magoados. Há livros para todos os gostos e feitios. Para gente miúda e gente graúda. Para todos os credos e todas as raças. Para amar e odiar. De plena saúde e com as piores das maleitas. Bem e mal escritos. Livros velhos com crenças novas e novas crenças em velhos livros. Alimento do corpo e refrigério da alma.
Com os livros, aprendi a beijar o mundo e as flores. A despertar o que de mais íntimo há em mim: a memória dos sentidos. A ver por dentro e por fora. A ouvir a voz insegura do coração. A recordar, sem medo, as coisas partilhadas. Aprendi a crescer devagar. A ter novas vontades. A gostar mais dos cães e dos gatos do que das pessoas. A resistir à tentação de querer ser feliz.
Com os livros, aprendi, sem custo, a tomar-lhes o gosto, dia a dia renovado: em casa, nas livrarias, nos alfarrabistas, nas bibliotecas, especialmente nas salas de reservados de bibliotecas portuguesas e espanholas, como a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Biblioteca Pública de Braga, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Biblioteca Nacional de Espanha e a Biblioteca da Universidade Complutense, em Madrid, a Biblioteca da Universidade de Salamanca ou a Biblioteca do Escorial.
Foi por aí que agravei ainda mais o meu gosto pelos livros, especialmente pelos manuscritos e pelos livros raros. Ter tido, nas mãos, livros dos séc. XIII a XVI, tê-los folheado, ter-lhes tomado os odores de séculos tão variados e tão distantes foi uma dádiva que a própria vida me concedeu e à qual ficarei penhorado de eterna gratidão.
Os livros dão-nos imensas razões para gostarmos deles e os tratarmos bem. Cada livro é um motivo em si. Cada livro tem a sua biografia. Em cada livro, há sempre uma história por contar. Cada livro guarda, no mais fundo de si, a esperança de alguém o levar consigo: por algumas horas que sejam ou para a vida inteira. Há histórias de livros que são autênticas histórias de vida: umas, naturalmente, mais felizes do que outras.
A Biblioteca Jaime Cortesão é uma biblioteca grande e uma grande biblioteca. Dispõe de um valiosíssimo acervo com milhares de documentos que urgem de cuidados intensivos, sob pena de, definitivamente, perderem, na estante, o lugar que lhes coube, por direito próprio, nas últimas décadas. Mais alguns milhares necessitam de banho completo. Serão mais ainda os milhares por catalogar. Enfim, são todos estes milhares que gostariam que alguém, ainda que de vez em quando, lhes provasse que vale a pena continuar a ser portadores do número de registo que, tão orgulhosamente, exibem na folha de rosto.
A Biblioteca Jaime Cortesão, a nossa querida e distinta biblioteca, é diferente da esmagadora maioria das bibliotecas escolares. Apesar do rude golpe sofrido, há uns anos, na estética decorativa, a biblioteca ainda mantém, na sua essência, a traça original que marcou o estilo de uma época. Aos meus olhos, continua muito bonita e particularmente muito acolhedora para quem faz dos livros amigos de eleição.
Termino como comecei. A dizer que sempre gostei de livros, razão de sobra para que continue a tentar acabar com o caos que, há muito, se instalou no universo bibliográfico da Jaime Cortesão.
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