A rotina atrapalha-nos e limita-nos. Mas é confortável e segura e por isso facilmente nos acostumamos e acomodamos. O conto da vaca é uma daquelas histórias que funcionam como um toque de atenção. Um despertar para o que não vemos em nossas vidas diárias, mas que nos afeta mais do que pensamos. E neste tempo incerto em que vivemos, mais do que nunca, devemos aprender a sair da nossa zona de conforto e criar novas oportunidades.
O mestre e a vaca (conto budista)
"Mestre e discípulo andavam pela estrada. O caminho era inóspito, agressivo. O ambiente não era favorável à vida. Muitas pedras e montanhas escarpadas e muito pouca vegetação. Avistaram, ao longe, uma casinha de aspeto pobre e humilde, e para lá se dirigiram.
Foram bem recebidos pelo dono da casa e sua numerosa família. Foram abrigados, e os residentes, com eles, compartilharam sua escassa comida e seu espaço para dormir. Interrogado pelo mestre, o dono da casa disse que a alimentação provinha de uma única fonte: uma única vaca da qual tiravam leite e seus subprodutos. O excedente era usado para efetuar trocas no povoado mais próximo.
Mestre e discípulo ficaram ali mais alguns dias, e depois partiram. Algumas horas depois da partida, o mestre disse ao discípulo:
Mestre e discípulo ficaram ali mais alguns dias, e depois partiram. Algumas horas depois da partida, o mestre disse ao discípulo:
- Volta lá, às escondidas, e atira a vaca no penhasco.
Estupefato, o discípulo argumentou:
- Mestre, como me podes pedir isso? Não percebes a pobreza de tão numerosa família, e que seu único sustento é a vaca? E, mesmo assim, pedes-me para atirá-la no penhasco?
- Sim - disse o mestre. Atira a vaca no penhasco.
Desorientado, o discípulo decidiu atender o mestre. No entanto, não conseguia fazê-lo, sem sentir uma enorme culpa. Mesmo assim, fez o que o mestre pediu
Alguns anos mais tarde, mestre e discípulo passavam novamente pelas proximidades da casa. Sem nada dizer ao mestre, o discípulo decidiu que faria a expiação, e pediria perdão por ter atirado a vaca do penhasco. Assim, dirigiu-se até lá. Mas, quando chegou, não encontrou mais a pobre casinha! Em seu lugar, havia uma construção nova e confortável. As pessoas, que avistou, eram limpas e bem vestidas, o ambiente era de trabalho, e o progresso era evidente. Foi, então, até uma das pessoas e perguntou:
Alguns anos mais tarde, mestre e discípulo passavam novamente pelas proximidades da casa. Sem nada dizer ao mestre, o discípulo decidiu que faria a expiação, e pediria perdão por ter atirado a vaca do penhasco. Assim, dirigiu-se até lá. Mas, quando chegou, não encontrou mais a pobre casinha! Em seu lugar, havia uma construção nova e confortável. As pessoas, que avistou, eram limpas e bem vestidas, o ambiente era de trabalho, e o progresso era evidente. Foi, então, até uma das pessoas e perguntou:
- Há uns dois ou três anos, aqui havia uma pequena e pobre casinha. Saberia me dizer para onde foram aquelas pessoas?
- Somos nós - respondeu o homem.
- Não, refiro-me àquelas pessoas pobres que aqui viviam.
- Somos nós - respondeu ele, novamente.
- Mas, o que aconteceu? - perguntou, olhando o progresso à sua volta.
- Bem - disse o homem. Aconteceu, numa noite, um terrível acidente, em que nossa vaca, nossa única vaca, caiu do penhasco, e ficámos sem nossa fonte de sustento. Não tivemos outra alternativa senão ser buscar trabalho. Descobrimos, então, nossas próprias capacidades e as potencializamos. Como resultado, temos hoje uma bonita e confortável casa".
Um mestre pode saber além da percepção do que está à nossa frente. Por isso, já sabia o que se desencadearia ao mandar atirar a vaca do penhasco. Já o discípulo, nada pode ver ainda, a não ser o que está diretamente à sua frente. Por isso, somente viu o infortúnio daquelas pessoas. O infortúnio é imediato. O infortúnio é transitório. Assim, devemos fazer das nossas dificuldades, nossas oportunidades!
A equipa da BE
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